terça-feira, 10 de novembro de 2009

A crise vista por dentro

William Handorf é diretor do Federal Home Loan Bank of Atlanta e ex-diretor do Federal Reserve de Richmod na gestão de Alan Greenspan. É também professor da George Washington University. Ele vivenciou de perto a crise econômica que atingiu os EUA – e refletiu no mundo todo – em 2008 e afirma: “Nós aprendemos com a crise e agora temos mecanismos mais eficazes para calcular riscos. Infelizmente, pagamos um preço muito alto por isso.”

Em visita ao Brasil a convite da Fecomercio e da Ordem dos Economistas do Brasil (OEB) Handorf explicou o surgimento da crise, suas consequências e a situação dos Estados Unidos (EUA). “A responsabilidade pela situação atual é toda dos EUA”, diz. Na opinião do especialista, a crise financeira foi motivada, em grande parte, por uma atitude criminosa dos profissionais de banco responsáveis por conceder crédito. “Os empréstimos não tinham regulação alguma”, critica

Um exemplo da falta de regulação fica evidente nos processos de concessão de crédito dos bancos. Handorf conta que, quando alguém procurava um empréstimo para comprar uma casa de US$ 1 milhão e não tinha renda suficiente, o responsável pela liberação do dinheiro fraudava o processo acrescentando falsos ganhos à renda do interessado. “‘Você tem marido? Então vamos colocar que ele ganha US$ 100 mil. Você tem cachorros? Ah, então mais US$ 20 mil por treinamento de animais. Toca piano? Ótimo, você ganha US$ 10 mil dando aulas.’ E assim concediam o empréstimo e cumpriam suas cotas”, conta.

O preço das casas compradas desse modo começou a subir e, animados com a valorização, os consumidores americanos, que já não podiam pagar suas dívidas, passaram a gastar mais. Para arcar com as novas despesas, os imóveis eram refinanciados, criando títulos podres que não poderiam ser pagos. Isso gerou um ciclo que sempre aumentava o risco dos empréstimos, até os bancos pararem de receber e começarem a quebrar.

A partir daí alguns Estados entraram em crise pela especulação, outros por problemas com as indústrias, até que o desemprego chegou a 23%. Muitas pessoas perderam suas casas. “Uma das coisas mais tristes da crise é isso: ver pessoas dormindo na rua ou em igrejas”, lamenta Handorf. Outro problema da crise é que muitas pessoas foram atingidas, mas poucas estão se recuperando.

Os americanos só estão gastando com aquilo que realmente precisam, o que desacelera a economia e torna mais lenta a recuperação. O governo de Barack Obama já projeta um déficit de mais de US$ 1 trilhão para este ano (2009), equivalente a 8,5% do Produto Interno Bruto americano. “Mas eu estou certo de que o Brasil pode comprar parte de nossas dívidas, agora que vocês estão com uma grande reserva de dólares”, brinca. Contudo, Handorf mostra-se otimista quanto a 2010. “Acredito que o ano que vem será de recuperação, como foi 2002-03. Infelizmente, sem criação de empregos”, arremata.

No Brasil, a situação é bem menos preocupante. A previsão do ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, é de que o país crie cerca de dois milhões de postos de trabalho no próximo ano.

Postado por: Paulo Patriani

Um comentário: